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Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, e é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários. Foi poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, Machado lutou para subir socialmente e ganhar respeito como intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente por unanimidade da Academia Brasileira de Letras. Sua extensa obra constitui-se de dez romances, dez peças teatrais, mais de duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é geralmente reconhecido como uma de suas obras-primas, ao lado das produções posteriores Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires. As quatro obras costumam ser vinculadas ao que se chama de sua segunda fase, em que se notam mais traços de pessimismo e ironia, embora se preservem resíduos de sua primeira fase, a romântica. As obras geralmente mais elogiadas da segunda fase são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena eIaiá Garcia, onde se notam características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como preferem alguns críticos contemporâneos. Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX. Atualmente, continua despertando grande interesse em leitores comuns e no mundo acadêmico. Machado influenciou grandes nomes das letras, como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade, John Barth e Donald Barthelme. Durante sua vida, alcançou relativa fama e prestígio pelo Brasil, mas não era popular fora do país. Hoje em dia, por sua originalidade temática e por seu estilo inovador, é frequentemente visto como um escritor de características sem precedentes no Brasil. Há décadas, sua obra tem alcançado diversos críticos, estudiosos e admiradores no mundo inteiro. O crítico Harold Bloom considerou Machado de Assis um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como Dante, Shakespeare e Camões.

Biografia
Primeiros anos
Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do alemão, Rio de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, uma prostituta. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu morar junto com ela. As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à rua Nova do Livramento Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado resolveram homenagear os dois nomeando-o com seus nomes. Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por ela.

Morro do Livramento. A seta do canto direito mostra a casa onde Machado provavelmente nasceu e passou a infância.

Em seu folhetim Casa Velha, publicado de janeiro de 1885 a fevereiro de 1886 na revista carioca A Estação, e publicado pela primeira vez em livro em 1943 graças à Lúcia Miguel Pereira, Machado fornece descrição do que seria a casa principal e a capela da chácara do Livramento: "A casa, cujo lugar e direção não é preciso dizer, tinha entre o povo o nome de Casa Velha, e era-o realmente: datava dos fins do outro século. Era uma edificação sólida e vasta, gosto severo, nua de adornos. Eu, desde criança, conhecia-lhe a parte exterior, a grande varanda da frente, os dois portões enormes, um especial às pessoas da família e às visitas, e outro destinado ao serviço, às cargas que iam e vinham, às seges, ao gado que saía a pastar. Além dessas duas entradas, havia, do lado oposto, onde ficava a capela, um caminho que dava acesso às pessoas da vizinhança, que ali iam ouvir missa aos domingos, ou rezar a ladainha aos sábados"

Como já citado, a região sofria forte influência da igreja católica, de modo que a vizinhança frequentava suas missas; a casa era "uma espécie de vila ou fazenda", onde Machado passou sua infância. Nesta época, José de Alencar tinha apenas 10 anos de idade. Três anos antes do nascimento de Machado, Domingos José Gonçalves de Magalhães publicava Suspiros Poéticos e Saudades, obra que trazia os ideais do Romantismo para a literatura brasileira. Quando Machado tinha apenas um ano de idade, em 1840, decretava-se a maioridade de D. Pedro II, tema que viria a tratar anos mais tarde em Dom Casmurro. Ao completar 10 anos, Machado tornou-se órfão de mãe. Mudou-se com seu pai para São Cristóvão, na Rua São Luís de Gonzaga nº48 e logo o pai se casou com sua madrasta Maria Inês da Silva em 18 de junho de 1854. Ela cuidaria do garoto quando Francisco viesse a morrer um tempo depois. Segundo escrevem alguns biógrafos, a madrasta confeccionava doces numa escola reservada para meninas e Machado teve aulas no mesmo prédio, enquanto à noite estudava língua francesa com um padeiro imigrante. Certos biógrafos notam seu imenso e precoce interesse e abstração por livros. 

Jornais, poemas e óperas
Tudo indica que Machado evitou o subúrbio carioca e procurou a subsistência no centro da cidade. Com muitos planos e espírito aventureiro, fez algumas amizades e relacionamentos. Em 1854, publicou seu primeiro soneto, dedicado à "Ilustríssima Senhora D.P.J.A", assinando como "J. M. M. Assis", no Periódico dos Pobres. No ano seguinte, passou a frequentar a livraria do jornalista e tipógrafo Francisco de Paula Brito. Paula Brito era um humanista e sua livraria, além de vender remédios, chás, fumo de rolo, porcas e parafusos, também servia como ponto de encontro da sua Sociedade Petalógica (peta=(ê), s. f. 1. Mentira, patranha). Um tempo mais tarde, Machado se referiria à Sociedade da seguinte forma: "Lá se discutia de tudo, desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda, desde o dó do peito de Tamberlick até os discursos do Marquês do Paraná".



Imprensa Nacional, c.1880, onde Machado de Assis iniciou seus serviços como tipógrafo e revisor.

No dia 12 de janeiro de 1855, Brito publicou os poemas "Ela" e "A Palmeira" na Marmota Fluminense, revista bimensal do livreiro.Estes dois versos, reunidos junto àquele soneto para a Dona Patronilha, fazem parte da primeira produção literária de Machado de Assis. Aos dezessete anos, foi contratado como aprendiz de tipógrafo e revisor de imprensa na Imprensa Nacional, onde foi protegido e ajudado por Manuel Antônio de Almeida (que anos antes havia publicado sua magnum opus Memórias de um Sargento de Milícias), que o incentivou a seguir a carreira literária. Machado trabalhou na Imprensa Oficial de 1856 a 1858. No fim deste período, a convite do poeta Francisco Otaviano, passou a colaborar para o Correio Mercantil, importante jornal da época, escrevendo crônicas e revisando textos. Durante esta época o jovem já frequentava teatros e outros meios artísticos. Em novembro de 1859, estreava Pipelet, ópera com libreto de sua autoria baseada em The Mysteries of Paris de Eugène Sue e com música de Ferrari. Escreveu ele sobre a apresentação:

"Abre-se segunda-feira, a Ópera Nacional com o Pipelet, ópera em actos, música de Ferrari, e poesia do Sr. Machado de Assis, meu íntimo amigo, meu alter ego, a quem tenho muito affecto, mas sobre quem não posso dar opinião nenhuma."

Pipelet não agrada consideravalmente o público e os folhetinistas ignoram-na. Gioacchino Giannini, que dirigiu a orquestra da ópera, sentiu-se contrariado com a orquestra e escreveu num artigo: "Não falaremos do desempenho de Pipelet. Isso seria enfadonho, horrível e espantoso para quem o viu tão regularmente no Teatro de São Pedro." O final da ópera era melancólico, com o enterro agonizante do personagem Pipelet. Machado de Assis, em 1859, escreveu que "o desempenho da mesma maneira que o primeiro, fez nutrir esperança de uma boa companhia de canto." De fato, o jovem nutria interesse na campanha de construção da Ópera Nacional. No ano seguinte a de Pipelet, produziu um libreto chamado As Bodas de Joaninha, entretanto sua repercussão foi nula. Anos mais tarde, registraria a nostalgia do folhetinismo de sua juventude.

Crisálidas, teatros e política
Aos 21 anos de idade Machado já era uma personalidade considerada entre as rodas intelectuais cariocas. A esta altura já era conhecido por Quintino Bocaiúva, que o convidou para o Diário do Rio de Janeiro, onde Machado trabalhou intensamente como repórter e jornalista de 1860 a 1867, com Saldanha Marinho supervisionando-o. Colaborou para o Jornal das Famílias sob pseudônimos: Job, Vitor de Paula, Lara, Max, e para a Semana Ilustrada, assinando seu nome ou pseudos, até 1857. Bocaiúva admirava o gosto de Machado pelo teatro, mas considerava suas obras destinadas à leitura e não à encenação. Com a morte do pai, Machado lhe dedica a coletânea de poesias “Crisálidas”: “À Memória de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, meus Pais.”


O jovem Machado aos 25 anos, 1864, gostava de teatro e lutava para subir socialmente. 
Foto: Insley Pacheco.

Em 1865, Machado havia fundado uma sociedade artístico-literária chamada Arcádia Fluminense, onde tivera a oportunidade de promover saraus com leitura de suas poesias e estreitar contato com poetas e intelectuais da região. Com José Zapata y Amat, produziu o hino "Cantada da Arcádia" especialmente para a sociedade. Em 1866, escreveu no Diário do Rio de Janeiro: "A fundação da Arcádia Fluminense foi excelente num sentido: não cremos que ela se propusesse a dirigir o gosto, mas o seu fim decerto que foi estabelecer a convivência literária, como trabalho preliminar para obra de maior extensão."este ano, Machado escrevia crítica teatral e, segundo Almir Guilhermino, aprendeu a língua grega para se familiarizar cedo com Platão, Sócrates e o teatro grego.De acordo com Valdemar de Oliveira, Machado era "rato de coxia" e frequentador de rodas teatrais junto com José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, e outros.


Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, c. 1890, onde Machado começou a trabalhar em cargo público.

No ano seguinte, 1867, subiu a escala funcional como burocrata, e no mesmo ano foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial pelo D. Pedro II. Com a ascensão do Partido Liberal pelo país, Machado acreditava que seria lembrado por seus amigos e que receberia um cargo público que melhoraria sua qualidade de vida, contudo foi em vão. À época de seu serviço no Diário do Rio de Janeiro, teve seus ideais combativos com ideias progressivas; por conta disso seu nome foi anunciado como candidato a deputado pelo Partido Liberal do Império — candidatura que logo retirou por querer comprometer sua vida somente às letras. Para sua surpresa, a ajuda veio novamente de um ato de Pedro II, com a nomeação para o cargo de assistente do diretor, e que, mais tarde, em 1888, lhe condecoraria como oficial da Ordem Da Rosa.

A esta altura já era amigo de José de Alencar, que lhe ensinou um pouco de língua inglesa. Ambos os autores, no mesmo ano, recepcionaram o ambicioso e famoso poeta Castro Alves, vindo da Bahia, na imprensa da Corte do Rio de Janeiro. Machado diria sobre o poeta baiano: "Achei uma vocação literária cheia de vida e robustez, deixando antever nas magnificências do presente as promessas do futuro." Os direitos autorais por suas publicações e crônicas em jornais e revistas, acrescido da promoção que recebera da Princesa Isabel em 7 de dezembro de 1876 como chefe de seção, rendeu-lhe 5.400$000 anuais. O menino nascido no morro havia subido de vida. Graças à sua nova posição, mudou do centro da cidade para o Bairro do Catete, na Rua do Catete nº 206, onde morou durante 6 anos, dos 37 até seus 43.

Noivado, cartas e relacionamento

A jovem simpática e culta Carolina Augusta, c. 1890, conquistou o coração de Machado.

No mesmo ano ao da reunião com o poeta, Machado teria um outro encontro que mudou de vez a sua vida. Um de seus amigos, Faustino Xavier de Novaes (1820-1869), poeta residente em Petrópolis, e jornalista da revista O Futuro, estava mantendo sua irmã, a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, desde 1866 em sua casa, quando ela chegou ao Rio de Janeiro do Porto.Segundo os biógrafos, veio a fim de cuidar de seu irmão que estava enfermo, enquanto outros dizem que foi para esquecer uma frustração amorosa. Carolina despertara a atenção de muitos cariocas; muitos homens que a conheciam achavam-na atraente, e extremamente simpática. Com o poeta, jornalista e dramaturgo Machado de Assis não fora diferente. Tão logo conhecera a irmã do amigo, logo apaixonou-se. Até essa data o único livro publicado de Machado era o poético Crisálidas (1864) e também havia escrito a peça Hoje Avental, Amanhã Luva (1860), ambos sem muita repercussão. Carolina era cinco anos mais velha que ele; deveria ter uns trinta e dois anos na época do noivado. Os irmãos de Carolina, Miguel e Adelaíde (Faustino já havia morrido devido a uma doença que o levou à insanidade), não concordaram que ela se envolvesse com um mulato. Contudo, Machado de Assis e Carolina Augusta se casaram no dia 12 de Novembro de 1869.

Desenho representando Machado de Assis segurando a mão de sua esposa Carolina Augusta, já velhos. Ambos teriam uma "vida conjugal perfeita".

Diz-se que Machado não era um homem bonito, mas era culto e elegante.Estava apaixonado por sua "Carola", apelido dado pelo marido. Entusiasmava a esposa com cartas românticas e que previam o destino dos dois; durante o noivado, em 2 de março de 1869, Machado havia escrito uma carta íntima que dizia: "...depois, querida, ganharemos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis."Suas cartas endereçadas a Carolina são todas assinadas como "Machadinho". Outra carta justifica uma certa complexidade no começo de seu relacionamento: "Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida", o que é um mistério para os recentes estudiosos das correspondências do autor. A carta do primeiro trecho aqui transposto traz uma alusão às flores que a esposa lhe teria mandado e ele, agradecido, teria as beijado duas vezes como se beijasse a própria Carolina.

Noutro parágrafo, diz: "Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar." De fato, Carolina era extremamente culta. Apresentou a Machado os grandes clássicos portugueses e diversos autores da língua inglesa. A sobrinha-bisneta de Carolina, Ruth Leitão de Carvalho Lima, sua única herdeira, revelou numa entrevista de 2008 que, frequentemente, a esposa retificava os textos do marido durante sua ausência. Conta-se que muito provavelmente tenha influenciado no modo de Machado escrever e, consecutivamente, tenha contribuído para a transição de sua narrativa convencional à realista (ver Trilogia Realista). Não tiveram filhos. Tinham, no entanto, uma cadela tenerife (também conhecidos como Bichon Frisé) chamada Graziela e que certa vez se perdeu entre as ruas do bairro e, atônitos, foram achá-la dias depois na rua Bento Lisboa, no Catete.

Casamento, histórias e lendas


A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana.

Na placa no Cosme Velho, lê-se: "Neste local viveu Machado de Assis de 1883 até sua morte em 1908".

Depois do Catete, foram morar na casa nº 18 da Rua Cosme Velho (a residência mais famosa do casal), onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgira o apelido Bruxo do Cosme Velho, dado por conta de um episódio onde Machado queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: "Olha o Bruxo do Cosme Velho!" Essa história acrescida à da cachorra, para alguns biógrafos, não passa de lenda. Machado de Assis e Carolina Augusta teriam vivido uma "vida conjugal perfeita" por longos 35 anos. Quando os amigos certa vez desconfiaram de uma traição por parte de Machado, seguiram-no e acabaram por descobrir que ele ia todas as tardes avistar a moça do quadro de A Dama do Livro(1882), de Roberto Fontana. Ao saberem que Machado não podia comprá-lo, deram-lhe de presente, o que o deixou particularmente feliz e grato. No entanto, talvez a "única nuvem negra a toldar a sua paz doméstica" tenha sido um possível caso extraconjugal que tivera durante a circulação de Memórias Póstumas de Brás Cubas.Em 18 de novembro de 1902, reverte a atividade na Secretaria da Indústria do Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas, como diretor-geral de Contabilidade, por decisão do ministro da Viação, Lauro Severiano Müller. Em 20 de outubrode 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado, que passou uma temporada em Nova Friburgo. Segundo o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Seu casamento com Carolina fez com que ela estimulasse seu lado intelectual deficiente pelos poucos estudos a que tinha realizado na juventude e trouxe-lhe a serenidade emocional que ele tanto precisava por ter saúde frágil. As três heroínas de Memorial de Ayres chamam-se Carmo, Rita e Fidélia, o que estudiosos crêem representar três aspectos da Carolina, a "mãe", "irmã" e "esposa". Machado também lhe dedicou seu último soneto, "A Carolina", em que Manuel Bandeira afirmaria, anos mais tarde, que é uma das peças mais comoventes daliteratura brasileira. De acordo com alguns biógrafos o túmulo de Carolina era visitado todos os domingos por Machado.

Morte
Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com uma úlcera canceriosa na boca; sua certidão de óbito relata que morrera de arteriosclerose generalizada, incluindo esclerose cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas. Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo,Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio, Euclides da Cunha, etc. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento: "Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade."Euclides ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."

Estudantes e amigos, entre eles Euclides da Cunha, saem da Academia conduzindo o caixão até o Cemitério São João Batista, 1908.

Em nome da Academia Brasileira de Letras, Rui Barbosa encarregou-se de fazer-lhe o elogio fúnebre. Em nome do governo, o então ministro do interior Tavares de Lyra discursou em pesar da morte do escritor. O velório ocorreu no Syllogeu Brasileiro da Academia; seu corpo no caixão, como relatara Nélida Piñon, "cercava-se de flores, círios de prata e lágrimas discretas." O rosto estava coberto por um lenço de cambraia e eram muitas pessoas presentes. Diversas pessoas, entre elas vizinhos, e companheiros de rodas intelectuais, ou amigos, ou colegas com que trabalhou, encheram o saguão. No mesmo discurso, Nélida comparou a despedida do autor como Paris que seguia o cortejo de Victor Hugo.De fato, uma multidão saía da Academia e sustentava o caixão do autor até o Cemitério São João Batista, enquanto outros acompanhavam de carro.Segundo sua vontade, foi enterrado na sepultura da esposa Carolina, jazigo perpétuo 1359. A Gazeta de Notícias e o Jornal do Brasil deram uma grande cobertura à morte, ao funeral e ao enterro de Machado. Em Lisboa, todos os jornais da cidade publicaram uma biografia de Machado de Assis, anunciando sua morte. Em 21 de abril de 1999, os restos mortais do casal foram transladados para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, onde também estão os restos de personalidades como João Cabral de Melo Neto, Darcy Ribeiro e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.

OBRAS:

Romance
1872 – Ressurreição
1874 – A Mão e a Luva
1876 – Helena
1878 – Iaiá Garcia
1881 – Memórias Póstumas de Brás Cubas
1885 – Casa Velha
1891 – Quincas Borba
1899 – Dom Casmurro
1904 – Esaú e Jacó
1908 – Memorial de Aires

Poesia:
1864 – Crisálidas
1870 – Falenas
1875 – Americanas
1880 – Ocidentais
1901 – Poesias Completas

Conto:
1870 – Contos Fluminenses
1873 – Histórias da Meia-Noite
1882 – Papéis Avulsos
1884 – Histórias sem Data
1896 – Várias Histórias
1899 – Páginas Recolhidas
1906 – Relíquias da Casa Velha

Teatro:
1860 – Hoje Avental, Amanhã Luva
1861 – Queda que as Mulheres Têm Para os Tolos
1861 – Desencantos
1863 – O Caminho da Porta
1863 – O Protocolo
1864 – Quase Ministro
1866 – Os Deuses de Casaca
1880 – Tu, Só Tu, Puro Amor
1896 – Não Consultes Médico
1906 – Lição de Botânica

CRONOLOGIA:
1839 – Nasce, a 21 de junho, no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis.
1851 – Morre-lhe o pai. Passa a ser criado pela madrasta, Maria Inês.
1855 – 12 de janeiro, publica o primeiro poema. Colabora com o jornal, A Marmota.
1856 – Admitido como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Nacional.
1858 – Escreve para O Paraíba, de Petrópolis. Passa a colaborar com o Correio Mercantil.
1859 – Estréia como crítico teatral na revista O Espelho.
1860 – Convidado para redator do Diário do Rio de Janeiro. Torna-se um dos redatores de A Semana Ilustrada.
1861 – Publica os textos teatrais Queda que as Mulheres Têm Para os Tolos e Desencantos.
1862 – Admitido como sócio do Conservatório Dramático Brasileiro, exercendo a função de auxiliar da censura.
1863 – Publica o Teatro de Machado de Assis, volume composto pelas comédias O Protocolo e O Caminho da Porta.
1864 – Publica o primeiro livro de poesias, Crisálidas.
1866 – Publica a comédia Os Deuses de Casaca e uma tradução que fez do romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo.
1868 – Apresentado em carta, por José de Alencar, a Castro Alves.
1869 – Casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais.
1870 – Publica os livros Falenas (poesia) e Contos Fluminenses (contos).
1872 – Publica o romance Ressurreição.
1873 – Publica Histórias da Meia-Noite.
1874 – De setembro a novembro, publica em O Globo, o romance A Mão e a Luva.
1875 – Publica Americanas.
1876 – Escreve para a revista Ilustração Brasileira. Publica de agosto a setembro, em O Globo, o romance Helena.
1878 – Publica de janeiro a março, em O Cruzeiro, o romance Iaiá Garcia. Adoece, entrando de licença, seguindo para Friburgo.
1879 – Começa a escrever para a Revista Brasileira.
1881 – Publica em volume as Memórias Póstumas de Brás Cubas. Escreve com assiduidade para a Gazeta de Notícias.
1888 – Elevado a oficial da Ordem da Rosa. Desfila a 20 de maio para celebrar a Abolição.
1890 – Visita, ao lado da mulher Carolina, as fazendas da Companhia Pastoril Mineira, em Minas Gerais.
1891 – Publica, em volume, Quincas Borba.
1896 – Aclamado, em 15 de dezembro, para dirigir a primeira sessão preparatória da fundação da Academia Brasileira de Letras.
1899 – Publica o romance Dom Casmurro.
1901 – Publica Poesias Completas.
1904 – Publica o romance Esaú e Jacó. Em janeiro, devido à enfermidade de Carolina, segue com ela para Friburgo. Carolina morre, a 20 de outubro, poucos dias de completar 35 anos de casados.
1906 – Publica Relíquias da Casa Velha.
1908 – Publica o romance Memorial de Aires. Afasta-se do trabalho, em 1 de junho, para tratar da saúde. Morre na madrugada de 29 de setembro, em sua casa, na Rua Cosme Velho. Por sua determinação, é enterrado na sepultura de Carolina, no Cemitério São João Batista.


Bibliografia do Site

http://virtualiaomanifesto.blogspot.com.br/2008/09/dom-casmurro-machado-de-assis.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_Assis

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